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Este Blog reúne algumas expressões das mais simples e complexas razões de existir. Sintam-se bem!

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A HISTÓRIA DE UMA COR

Existem histórias que somente seus próprios personagens são capazes de compreender. Outras que comovem quem a conhece ou ouviu falar. Outras ainda que sensibilizam milhões. Esta facilmente se enquadraria em qualquer um desses cenários, não fosse a frieza de quem a escreve, pois ela é a história de uma cor, traduzida em sorriso, covinha, dança e voo.


Tudo isso se encontra em qualquer conto, famoso ou não, mas como todos, este tem um diferencial. Cor é uma menina que não tinha cor e, ao mesmo tempo, era toda colorida.


Cor nasceu de uma mistura perfeita e harmônica. Há, no entanto, quem diga que não era tão perfeita assim, mas entre risos e prantos, pincel, paleta, mexidinha e amor, ela veio. Sua luz era intensa, mas não era diretamente ligada ao seu tom, pois este se metamorfoseava em música. Desta maneira, sua intensidade era impressionantemente nítida, a partir de passos de dança, ou seja, o movimento daquilo que ela mesma produzia.


É! De fato! Como todas as cores, esta é difícil de ser descrita. Ela provoca uma série de sensações, sentimentos e emoções em quem convive com ela. Por isso, fez-se menina! Talvez para tentar simplificar ainda mais aquilo que é óbvio e, ao mesmo tempo, indecifrável.


Outra característica que deve ser levada em consideração quando se fala de Cor, é o fato de que ela insiste em ser plural. Ela não admite nada ofuscado ou apagado. Para ela tudo tem que ter brilho, som, beleza e luz!


Pois bem! Em um dia em que o sol, possivelmente, estava radiante, prenunciando uma noite feito um céu estrelado pintado à mão, Cor nasceu. Seu pais eram orgulho e carinho! Não se sabe muito sobre como Cor cresceu, embora crescer, no seu caso, seja um novo enigma universal. Ela cresceu, mas não cresceu!


O que acontece é que a menina tem um incrível poder de se redesenhar livremente. Isso mesmo! Cor mistura-se ou não, apaga-se e se refaz como quiser. Sua varinha mágica é um pincel. Com algumas horas de trabalho ela está novinha em folha. Redesenhada ao seu livre gosto. Ela já se refez bebê, criança, adolescente, jovem, adulta, velha... Ela é capaz de desenhar até mesmo seus sentimentos, já se pintou rebelde, triste, feliz, com dor, sem dor, como quem ama, como quem não quer amar, que sente saudade, que deixa saudade, que ri, que chora, que canta, que dança, que pula... Enfim, ela não é primária, nem secundária, muito menos terciária, dela, simplesmente, tudo é possível.


Para refazer-se, Cor criou um esconderijo secreto. Tudo o que precisava estava lá. Ah! Embora ela, criativamente, tentasse disfarçar o local, chamando-o de coisas e lugares comuns, era possível chegar até ele. O que era impossível de se saber, era como a menina sairia de lá, depois de entrar decidida a se redesenhar. Além do pincel, Cor tinha um espelho. O pincel se chamava Aura. O espelho recebia um nome estranho. Os maiores poetas que esta Terra já viu, tentaram conceituar tal nome, embora ele só exista para pessoas que conseguem entender nossa derivação do latim. O espelho se chamava Saudade.


Muitas vezes, Cor viu-se desanimada diante do espelho. Não entendia como poderia ver-se tão de perto e, ao mesmo tempo, tão distante naquele reflexo real e irreal. Essa condição mexia muito com ela. Pelo espelho, Cor via o que foi, o que era e o que poderia ou gostaria de ser. Esse movimento lhe era tão empolgante e dolorido que, não poucas vezes, ela quis ficar ali em frente ao espelho lembrando-se, sentindo-se, imaginando-se, sem perceber que o espelho refletia não somente ela, mas também todo o mundo que a esperava.


O que a fazia superar sua vontade de ficar escondida em frente ao espelho era o seu pincel. Aura era tão travessa, mas tão travessa, e decidida, que não tinha negociação com ela. O pincel, ao ver toda aquela situação, corria espontaneamente para as mãos de Cor e a fazia redesenhar-se para fora de sua fortaleza. Esse movimento era dolorido, pois Cor precisava apagar-se para ressurgir. Isso era duro! Mas todas as vezes era incrível, pois, ela, como sendo singular e plural, utilizava-se disso para misturar-se e refazer-se ainda mais brilhante, mais cheia de luz, mais bela, mais forte e intensa.


O pincel foi um presente dado a Cor como prova da sua imensa capacidade de amar. Fora feito com a mais alta qualidade e nobreza que se possa existir. O espelho foi lhe dado como herança, para que ela nunca esqueça de quem é verdadeiramente! Cor não queria aceitá-lo. Compreensível! Chegou até mesmo a usar várias misturas que continha em forma de amor, para desenhar a esperança. Ela retirava do seio de sua vida, uma preciosidade revigorante e entregava como alimento a quem precisava, para não ter de pendurar o espelho em seu esconderijo. Cor pintou e repintou a esperança, que fez-se memória, ruptura e expandiu-se em eternidade chamada amor. Desta forma, o espelho, que tem nome de Saudade, é uma pintura de esperança, feita amor, em múltiplas e múltiplas cores de Cor.


Em uma de suas repinturas, Cor redesenhou-se com asas. O interessante é que a menina imagina-se voando muito alto. É lindo só de imaginar.

 

Sua casa, igualmente a ela, é plural. Ela tem muitas casas quando bate as asas. Ela nunca as apagou, mas as utiliza pouco. A vantagem é que, diferentemente, de Ícaro suas asas não são de cera. Nada as derrete. Quando Cor está com suas asas abertas, ela é indiscutivelmente, intensa. Sua luz se transforma em música e dança. Quando as tem fechadas, ela fica uma Cor sem cor. Não que isso seja de todo o mal. Isso revela sua transparência na vontade de sentir suas raízes em frente ao espelho, no entanto, como já falamos, ele aponta pra mais.


Cor menina! Cor mulher! Cor artista, dançarina, bailarina, professora, médica, benzedeira, mãe, tia, filha, filhinha, santa, pecadora, livre, presa, forte, fraca, triste, feliz... Cor! O que quiser! O que puder! O que precisa! O que deseja! O que não te solta! Cor é tudo!


Às vezes, Cor misturava-se para ver o que poderia resultar e com isso produzir-se. Fez experiências incríveis. Tentou eternizar algumas, outras eternizaram-se naturalmente. Sem dificuldades Cor dá um pouco de si para que outros misturem e renovem-se. Tudo fica bonito. Há quem diga, que o espelho preocupa-se quando ela se esgota para outros antes de refazer-se, e insiste em lhe mostrar que tudo e todos estão bem, no intuito de acalmá-la.


Todos os dias Cor abre e fecha asas. Aperta e solta covinhas. Mistura-se e é misturada. Sobe e desce. Se intensifica e se ofusca. Logo, lembra-se do seu esconderijo e de suas preciosidades e então a harmonia colorida lhe volta a sorrir.


Faz tempo que Cor não redesenha-se. Embora, as opiniões mais profundas é de que ela faz isso diariamente, mantendo-se aparentemente a mesma. Agora parece que a menina Cor está redesenhando seu esconderijo. Ela viu-se no espelho em um outro ambiente e está pensando em deixar de percebe-lo como algo palpável capaz de esconder-se embaixo de um carro, e se interessando mais naquilo que ele pode lhe mostrar e refletir. Não há consenso em como Cor apresentar-se-á amanhã, o certo é que ela, sem dúvidas, surpreenderá!


Quem ver Cor, sem dúvidas, instantaneamente se colorirá. Mesmo que não a conheça, saberá quem ela é. Com o pincel e o espelho, ela pinta e repinta um dia após o outro, como se cada um fosse uma eternidade em minutos que se sequenciam.


Embora quem a conhece peça que ela não a abandone, Cor é livre. É repreendida, as vezes, por querer-se brilhante demais, a ponto de queimar as vendas de olhos tapados, mas isso ela supera em dança.


Cor segue menina e segue mulher. Suas noites são obras de arte. Seus dias são exposições. Suas mãos poderosas. Seus movimentos indecifráveis. O desafio de Cor é viver! Colorir-se de si mesma e de tantas e quantas misturas achar necessário e repintar-se em um arco-íris infindável. Na poesia da Cor, nada lhe corta, mas tudo lhe verga. Nada lhe engole e tudo lhe é arte.


Esta é Cor! Uma menina como tantas outras mulheres! Única e preciosa!

Tiago Arcego da Silva

Para Cor

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