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Este Blog reúne algumas expressões das mais simples e complexas razões de existir. Sintam-se bem!

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FLORZINHA

Os contos simples, de lugares simples e histórias comuns, são instigantes pelo fato de que os lugares simples e as histórias comuns não são tão simples e comuns como se imagina à primeira vista.

 

Aqui se falará de um lugar muito íntimo e próximo, que será chamado simplesmente de “Ali”. Também se falará de algumas pessoas desconhecidas, mas que por sua nobreza, ao se revelarem comuns, guardam uma intensidade de notabilidade que as fazem únicas, grandiosas e comparáveis a alguns personagens mais conhecidos.

           

Pois bem!

 

Ali se viu o que antes ninguém havia visto. Ali se ouviu o que antes ninguém havia ouvido. Era um misto de novidade e medo, misturado com normalidade e alegria. A beleza e os risos eram enxergados e arrancados em meio as gotas de suor derramadas do nascer ao pôr do sol e do anoitecer ao amanhecer. Ali se não se trabalhar a vida passa rapidamente e a comédia pode ser um palco também da tragédia e vice versa.

           

O fato é que Ali se optou por sempre desfilar e atuar na comédia, na mais pura tradução, visto que a tragédia é reservada aos que se dizem nobres, heróis ou semideuses. Ali se encontravam todos estes, transvestidos de comuns. No entanto, ocorria uma inversão da poesia de Cervantes. Se lá havia alguém que se pensava herói desfilando em um “Rocinante” achando ser um Puro Sangue, Ali se desfilava em um “Puro Sangue” achando ser um “Rocinante”. Fato comum é que Ali também havia uma sátira das histórias de cavalaria da época, visto que os livros diziam que todos deveriam ser iguais e caso não fossem deveriam “portar” uma marca da diferença excludente.

             

Ali se instituiu também uma briga e amizade forte com moinhos de vento, ora moinhos, ora dragões. Antes mesmo de Ali se chegar, do outro lado da margem do grande rio, em alegorias mais contemporâneas, já haviam sido criadas, muito melhores é verdade, - não por um único criador e sim por dois valentes, ela e ele, cavaleira e cavaleiro gladiadores de moinhos de vento - Docinho e Lindinha.

           

A primeira, que se diz comum, tem o super poder da lealdade. Seu vigor está na luta e no zelo por suas irmãs. A segunda, tem o dom de falar em línguas e o grande poder da comunicação. Sua visão e audição estão além do alcance padrão, tanto que ela pode se comunicar com animais e odeia ver brigas. Florzinha veio somente depois de cruzarem o rio. Mesmo que sua poção tenha sido preparada para vir como cravo, ela veio como rosa na primavera. Seu poder especial é o de congelar tudo com seu sopro, embora neste conto, seu sorriso descongele, aqueça e irradie tudo.

           

Cabia as três meninas o desafio de cuidarem e protegerem seu mundo, logo a responsabilidade lhes bateu cedo. Lindinha e Florzinha adoravam brincar de descobrirem novas línguas e palavras de mundos aparentemente estranhos, mas carregados de beleza e vigor. Já Docinho, como não poderia ser diferente, foi pra luta estudar. Florzinha era quem mediava os diálogos entre Lindinha e os que se diziam normais. As duas riam das perguntas idiotas e respeitavam as inteligentes.

           

Como o super poder de Lindinha era mais sensível ao mundo em que viviam, ela precisava de mais cuidados para não ser atingida pela normalidade dos normais. Com isso ela conheceu lugares para além de um lado e o outro da margem do grande rio. Ali, com elas, se viu o normal ser simplesmente normal. Ali se viu a anormalidade como mera ignorância de um “Caco” desinformado.

           

Florzinha é a sonhadora. Foi a primeira encontrada em Ali. Ela estava carregada de sorrisos e amizades que a faziam mais florida. Verdadeiramente tinha um ideal para dedicar seus dias e noites. Embora soubesse muito bem de onde veio, sabia com muito mais perfeição para onde ia e com quem ia. Ela tem comparsas de escola e também comparsas de rua, que a fazem bem. Seu anel é feito de coração e céu.

           

A mais jovem das irmãs ainda não descobriu o silêncio que paira nas páginas de Cervantes, mas vive toda a aventura. É verdadeiramente uma flor rara, seu nome já diz. Em Ali se viu ela brotar, crescer, brincar, correr em uma perfeita história comum jamais vista. Sua fala é fluente e sua paixão em descobrir palavras encanta quem a ouve mesmo sem ouvir e a vê mesmo sem enxergar. Sim! Em Ali se viu alguém, com tamanho poder, ser ouvida por quem não ouve e ser vista por quem não vê.

           

Além do mais seus sonhos vão para muito além dos habituais. Ser uma super heroína comum, salvar o mundo das ameaças dos normais diariamente e defender a justiça, lhe é algo pequeno diante de tamanha dedicação a navegação prazerosa e leve de uma dança. Dança de palavras. Dança de mãos, pernas, corpo, alma, espírito. Dança que mais se parece com um voo que deixa rastro colorido de quem nasceu rosa na primavera.

           

Se contatar com Florzinha e descobrir seu real, diante da irrealidade vã cotidiana, é difícil para quem não compreende de sonhos. Seu lugar é em Ali. Sua vida é em Ali. Ali onde ninguém é capaz de ouvir e falar sem ser entendido. Ali onde o contrário é o igual e as mãos desenham histórias capazes de serem tocadas. Quem quiser ver Florzinha, basta ir em Ali.

           

Viva Florzinha!

           

Viva como antes ninguém viveu!

           

Pois, em Ali se viu e ouviu como tudo isso é possível!

Tiago Arcego da Silva

Para Florzinha

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